17 Jun 2013

Sobre o bicho que eu queria não ser.

  O ser humano é o bicho mais fodido que eu conheço.

  Se existe um deus que nos criou à sua imagem e semelhança, este seria também o próprio diabo. E se o que está encima é igual ao que está embaixo, o inferno não acaba ao nível do mar. Lembre-se que as nuvens também são feitas de água.

  A verdade é que todo animalzinho na superfície terrestre – ou debaixo d'água, ou voando nos céus, ou onde quer que esteja – não tem exatamente a consciência do que deve fazer para continuar vivendo, mas quando surge a necessidade, quando seus corpinhos os mostram que há algo excepcional acontecendo ao seu redor, ou até mesmo dentro daquela casca que, por mais forte que seja, não deixa de ser vulnerável, apresentam uma rápida solução para o caso. E mesmo que eles possam presenciar as alegrias de um dia de sol e a tristeza da perda de um companheiro, tais sentimentos não são tão fortes a ponto de mudar alguma coisa em seus comportamentos diários.

  As formigas e as abelhas não se organizam porque sabem que desse jeito as coisas vão para frente – elas se organizam pois seus corpos interagem com os outros a ponto de influenciá-los de uma maneira aparentemente racional, e elas nem mesmo tem noção disso. Elas não tem regras porque alguém pensou e escreveu uma constituição. Suas regras são continuar vivendo e servindo às raínhas que, por sua vez, tem um corpo diferente das operárias. Enquanto isso, bens materiais são a única diferença entre nós e aqueles que chamamos de superiores.

  Nas espécies conhecidas hoje em dia, qualquer forma de organização não passa daquilo que se chama instinto. Mas sempre tem um escroto que acaba com a brincadeira. Chegamos ao topo da cadeia alimentar, e ali ficamos. E para onde mais poderíamos ir? Ainda precisamos de comida. Nós ainda respiramos, e ainda podemos falecer. Seria a capacidade de morrer que nos torna seres vivos, afinal? E ninguém tem certeza se o que nos faz partir desta para uma melhor é mesmo a parada cardíaca, de modo que, hoje em dia, existe também a morte cerebral. E essa tal melhor, existe mesmo?

  Aparentemente, o ser humano é a única espécie capaz de desenhar um ponto de interrogação que não se apaga. Nossas questões não duram segundos – continuam até que tenhamos uma resposta satisfatória. Não fugimos quando temos medo, mas procuramos lidar com aquilo que nos aterroriza. E as pequenas ideias que não vão embora acabam por irritar-nos cada vez mais.

  Quando alguém parte, nós choramos, ficamos de luto, deixamos de ser felizes por dias. Quando nos sentimos ameaçados, fugimos. Mas quando temos coragem,  procuramos resolver a situação. Quando encontramos um parceiro – quase que – ideal para procriação, acabamos por nos apaixonar. E com o passar do tempo, nos organizamos de uma maneira que a vida se torna mais fácil com aquela pessoa que tanto gostamos. E não gostamos apenas de uma pessoa. Gostamos de várias pessoas, de muitos jeitos diferentes. E nós tentamos ficar perto delas da melhor maneira possível. Mas que maneira é essa? Quando foi que chegamos a uma conclusão plausível?

  Há tantas coisas que nos tornam diferentes dos outros seres vivos encontrados neste planeta e, mesmo assim, continuamos sendo animaizinhos, que necessitam de água, comida, oxigênio e a habilidade da reprodução.

  Nós não podemos viver como um animal selvagem, pois o número de ferramentas disponíveis em nossas mãos é muito grande para uma vida tão singela. Nós não podemos viver em uma sociedade baseada no amor, porque nós pensamos demais. E não podemos viver em uma sociedade baseada na razão, já que sentimos demais. Não podemos ser algo simples, pois já nascemos complicados. Não há como caminhar em direção à uma coisa quando existem outras que prendem os nossos pés. Não dá pra ser como deveria ser, como achamos que deveria ser e muito menos como sentimos que deveria ser, porque simplesmente não se pode dominar as virtudes humanas sem ser divino, e não se pode ser divino quando se é humano.

  Cara, eu preferiria mil vezes ser uma planta.

1 comment:

Thay said...

Não sei se você conhece o Ben Whishaw, mas ele é um ator inglês muito do diferente. Em uma entrevista ele disse algo do tipo do seu texto: que tivesse reencarnação, ele não quer voltar humano de jeito nenhum. E é difícil não concordar com o seu ponto de vista, ou o dele. Está difícil ser humano (hihi) hoje em dia. =/